Eu só achei. Achei errado, mais
uma vez, talvez. Desculpe. Ah não, desculpas para mim, não para você, querido. Era
mais fácil quando você não me agradava nenhum um pouco. Mentira, não era. Você me
intimidava e havia muitas camadas de barreiras entre nós. Simpatizar com você facilita
em muitos aspectos minha vida naquele grupo. Acho que o problema foi o tipo de
simpatia que resolvi alimentar.
O que era aquele olhar? As brincadeiras?
A curiosidade? Eu imaginei? Não imaginei aquele beijo. Mas pode não ter sido
nada para você, mesmo tendo sido sua iniciativa. Eu tive a chance, mais de uma
vez, e poderia ter mudado tudo, ou nada, mas só saberia se tivesse feito algo,
aquilo que me fez ir até você.
E então a mesma pessoa que me
abriu os olhos, os espeta ou me força a fechá-los nessa noite solitária. Você não me quer. Você é
mais um que não me quer. Um dos poucos que eu cheguei perto de realmente
acreditar que queria, que irônico. Achei que descreveria nossos flertes e lá
pelo meio do ano estaríamos juntos de vez. Ingenuidade minha, mas sejamos
francos nessas horas.
Certas coisas são engraçadas. Direcionava meu olhar aos comprometidos, mas sabendo dos impedimentos,
consumia-me em paixão platônica apenas. A dúvida a alimentava e eu me via
disposta a infligir leis se fosse necessário, só para satisfazer meus desejos. No
fundo, não sei se realmente acreditava nessas fantasias, mas era minha maneira
de continuar amando, mesmo que de mentira. Aí você se destaca no horizonte e não
há nada que se interponha a nós. Mas talvez, só para não perder o costume, você
se compromete com outro alguém meses depois e lá estou eu prestes a entrar na
mesma posição de novo. Não! Se o que me irritava em nós (um nós que não existia,
propriamente) era a falta de acontecimentos significativos, não acho que sustentaria
uma paixão platônica por você. O que sempre caracterizou minha atração por você
foi uma dificuldade em fantasiar sobre nós, e outras coisas. Eu queria a realidade,
o palpável, o toque, o gosto. Assim, com essa sua nova condição, logo penso em
dar por encerrado essa coisa que mal existiu. Já derramei as devidas lágrimas
por você e as mais doloridas por mim mesma.
Bem, pelo menos a notícia chegou
justamente na noite em que, mais cedo, tive algumas percepções fortalecedoras. Por
que não posso ser a mulher segura que eu quero ser? Por que não me acho digna
do amor? Essas são perguntas com as quais me torturei mais tarde, mas antes,
pelo menos antes, eu vi que não sou Martin. Nem você é. Existem coisas
minhas nele e em você também, mas ele é alguém completamente diferente e autônomo.
Existem também muitas outras partes de mim em outros personagens que criei e
nenhuma delas me define por completo. Acho que a partir do momento que crio
vidas e mundos distintos do meu é porque essas coisas funcionam bem naquele
lugar, naquela condição. Essas realidades se atravessam, é verdade, mas não se
sobrepõem.
Eu não te amo. Eu não te odeio. Eu
me apaixonei por uma ideia de você e como você mesmo diz, esse é o nosso mal:
nos apaixonarmos por ideias que temos dos outros. Mas tudo bem, vou sobreviver
às minhas ideias. Vou brincar com elas, foi o que sempre fiz. Você eu não sei, você
fez sua escolha. Tive minhas chances e as desperdicei. Fecho essa porta ciente
de que não haverá
rancor, raiva, manipulações. Eu perdi, aceito. Um outro dia eu vou ganhar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário